Alfabetizar não pode ser encarado de forma simplista, supondo que significa apenas um ato de ensinar a ler e escrever. Alfabetizar é mais do que isso, é buscar a tradução do mundo que está a nossa volta como diria (FREIRE), “[...] o objetivo da escola é ensinar o aluno a ler o mundo para poder transformá-lo [...]”. Para Freire era necessário fazer com que parcelas da população, menos favorecidas, compreendessem porque estavam sendo oprimidas e entendesse que elas tinham o direito de se libertarem. Por outro lado, existia o que Freire chamava de “educação bancária”, onde escolas burguesas encaravam o educando como mero receptor, negando a ele o estímulo a sua curiosidade, ao seu espírito investigador e a sua criatividade. Afinal, era mais fácil dominar aquele que não é estimulado a refletir, ou seja, o aluno acomodado aceita a realidade imposta tal qual algo estabelecido e impassível de mudanças. Era necessário, sobretudo, provocar uma inquietude no aluno, a qual faria dele um sujeito que não somente opina sobre a sua realidade, mas age sobre ela. Ainda segundo (FREIRE, p.2), “[...] não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão [...]”.
Em relação aos temas geradores, eles refletem uma forma de haver dialogicidade entre professor e aluno. O professor deve ser capaz de refletir sobre a realidade do seu aluno, tentando, a partir desse mundo que o educando conhece, estabelecer um vínculo, uma “via de duas mãos”, afinal, “[...] o sujeito da criação não é individual, mas coletivo [...]” (FREIRE), ou seja, quando há essa compreensão o ato de aprender é coletivo. Para isso, é preciso que o professor compreenda que sem humildade não há diálogo “[...] não há, por outro lado, diálogo, se não há humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente, não pode ser um ato arrogante [...]” (FREIRE, p. 3).
Portanto, de acordo com Frei Betto, alfabetizar segundo Freire, é muito mais do que ensinar que “Ivo viu a uva”, é sobretudo ter clareza, coerência e a humildade de compreender que o mundo funciona a partir de muitas mãos. Desde aquele que plantou, colheu, transportou, vendeu até as mãos daquele que consumiu ou daquele que lucrou.